O
Precâmbrico corresponde a um enorme
intervalo da história da Terra. Está dividido em três períodos que compreendem
o Hadaico, o Arcaico e o Proterozóico.
Quadro 2 – O
Precâmbrico.
Fonte: Evolução
2008/2009 (2º Semestre), Centro de Estudos Geológicos, FCT UNL, João Pais,
2009.
A rocha mais antiga
A
formação rochosa mais antiga data de há 3960 milhões de anos e ocorre no
Canadá.
As
rochas formadas no início da Terra terão sido nessa altura, ou mesmo
posteriormente recicladas pelo manto, uma vez que a Terra era 2 a 3 vezes mais
quente que na atualidade. Isto implicava um acelerar nas correntes de convecção
do manto e como tal uma maior reciclagem do material à superfície do planeta.
Um
outro fator a ter em conta é o efeito do impacto dos meteoros. Sabe-se hoje que
o nosso planeta entre os 4,2 e os 3,9 mil milhões de anos sofreu um enorme
bombardeamento por parte de asteróides, os mesmos que deixaram as conhecidas
crateras lunares.
Assim,
julga-se que as formações rochosas de uma crusta jovem teriam sido derretidas e
destruídas pelos enormes impactos. A litosfera foi sem dúvida fraturada e
enormes quantidades de lava teriam assim atingido a superfície.
Claramente
se percebe que registos desta época são quase impossíveis de obter e que muito
do conhecimento desta época é puramente especulativo. Será que pode mesmo ser
considerada uma divisão do nosso tempo geológico? Fornece pelo menos o início
do nosso calendário apesar das suas fronteiras serem de algum modo vagas.
(Pais, 2009).
Hadaico (4600-3800 Ma)
O
Hadaico não é um período geológico verdadeiro. Nenhuma rocha é tão antiga, à
excepção dos meteoritos. Durante o Hadaico, o sistema solar estava a formar-se
provavelmente dentro de uma nuvem de gás e poeira em torno do Sol.
A
solidificação do material derretido (protoplanetas) aconteceu enquanto a Terra
arrefeceu. Os meteoritos mais velhos e as rochas lunares têm aproximadamente
4500 Ma, mas a rocha mais velha da Terra conhecida actualmente tem 3800 Ma. Por
algum tempo durante 800 Ma da sua história, a superfície da Terra mudou do
estado líquido para o sólido. Começou assim a história geológica da Terra. Isto
aconteceu provavelmente antes provavelmente antes dos 3800 Ma, mas não existem
hoje evidências desse facto. A erosão e a tectónica de placas destruíram
provavelmente todas as rochas mais antigas. A rocha mais antiga que se conhece
na actualidade no nosso planeta é do Arcaico (Pais, 2009).
O aparecimento da vida
O
mais simples elemento que pode ser considerado vivo teve que desenvolver uma
complexa agregação “ordenada” de moléculas. Estas, como é óbvio, não deixam
qualquer vestígio fóssil.
Apesar
de ser bastante possível que a “vida” tenha surgido por mais que uma vez, há
bons argumentos para aceitarmos que todos os organismos que conhecemos tenham
todos a mesma origem e assim tenham surgido todos com base num ancestral comum.
Todos os organismos partilham características muito peculiares. Por exemplo, a
universalidade (com pequenas excepções) do código genético como a maquinaria da
síntese proteica é outra das características que implicam uma origem
monofilética dos organismos.
Arcaico (3800 - 2500 Ma)
A
vida surgiu durante o Arcaico. Os fósseis mais antigos têm aproximadamente 3,5
biliões de anos e são constituídos por estromatólitos (bactérias e
cianobactérias). De facto, toda a vida com mais de um bilião de anos era
composta exclusivamente por bactérias. Os estromatólitos são estruturas
biosedimentares em que o sedimento foi
aprisionado ou precipitado por acção de cianobactérias ou bactérias
autotróficas em águas pouco profundas. Foram abundantes durante o Arcaico mas
atualmente são raros (Pais, 2009).
Figura 1 – Estromatólitos
do Precâmbrico
Fonte: http://paleontologiageral.blogspot.pt/2010/08/evolucao-biologica.html,
consultado em 06-12-2012.
Proterozóico (2500 - 544 Ma)
Ao
passarmos do Arcaico para o Proterozóico a natureza dos registos fósseis muda
muito pouco. Somente se continuam a encontrar com alguma frequência os
estromatólitos. Parece que o ritmo da evolução continua lento.
Apesar
da extrema raridade de registos fósseis desta época, parece ser agora que
surgem as primeiras células eucariótas primitivas.
Figura 2 - Fóssil
de bactéria ancestral.
Fonte: http://www.ucmp.berkeley.edu/precambrian/bittersprings.html,
consultado em 06-12-2012.
Os
eucariótas possuem um núcleo celular e reproduzem-se por mitose e meiose em
contraste com a simples divisão celular das células procariótas. O advento da
reprodução sexual foi provavelmente o passo mais importante de todos e
presumivelmente terá ocorrido há cerca de 1000 milhões de anos. Esta datação é
razoavelmente suportada pelos fósseis datados de 900 Ma encontrados em Bitter
Springs na Austrália que aparentemente apresentam divisões meióticas em
curso.(Pais, 2009).
Foi
estabelecido na atualidade que o aparecimento de organismos multicelulares terá
ocorrido no Proterozóico (Pais, 2009). Sucessões proterozóicas de variados
locais com cerca de 900 - 1000 Ma revelam estruturas únicas que deixam
impressões semelhantes a algas multicelulares.
A
primeira evidência dos primeiros metazoa animais é apenas indireta e pode ser
vista como o frequente fenómeno de bioturvação em sedimentos móveis tipicamente
efetuado por organismos bentónicos ( animais que vivem associados ao sedimento,
quer marinho, quer de águas interiores) que escavam galerias no sedimento. Só
posteriormente surgiram animais maiores e com estruturas duras que permitiram a
sua preservação durante o processo de fossilização. Foram recentemente
descobertos na China registos de animais semelhantes a anelídeos com cerca de 700
- 900 Ma.
O
aumento da velocidade nos próximos passos evolutivos pode ser observado nos
100-200 Ma seguintes através da observação da chamada fauna de Ediacaria (Ediacara
é o nome de uma região da Austrália onde ocorrem os mais antigos fósseis de
metazoários, aqueles com células organizadas em tecidos e órgãos (www2.igc.usp.br/replicas/ediacara.htm)) que contém uma grande variedade de metazoa. Estes podem ser vistos
como ancestrais da enorme diversidade que surgiu no Câmbrico (Pais, 2009).
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