domingo, 16 de dezembro de 2012

FOSSILIZAÇÃO



Ao conjunto de fenómenos físicos, químicos e biológicos que permitem a formação de fósseis dá-se o nome de fossilização.

Condições de fossilização
A - Inerentes ao Meio
Para que a fossilização seja possível, é necessário que, após a morte do ser vivo, se forme um depósito sobre ele, o qual, isolando-o do ambiente, impeça a sua destruição.
É por este motivo que os fósseis relativos a seres terrestres são muito mais raros que os fósseis marinhos ou lacustres.
A fossilização depende, também, da qualidade do depósito - quanto mais fino e impermeável este for, mais fácil será a fossilização; um depósito grosseiro e permeável, pelo contrário dificulta a fossilização.
As temperaturas médias e a humidade, ao facilitarem as acções microbianas, dificultam a formação de fósseis; pelo contrário as temperaturas próximas de 0º, ao impedirem essas acções favorecem-na.

B - Inerentes ao Ser
A fossilização é tanto mais fácil quanto mais rico for o ser em substâncias minerais: sílica, sais de cálcio, etc.
Os ossos, os dentes, as conchas, etc., fornecem os melhores fósseis; pelo contrário, as unhas, os chifres, os pêlos, as penas, etc., raramente se conservam, e as partes moles só em casos muito excepcionais deixaram impressões reconhecíveis (Guimarães, 1962).

Tipos de fossilização
1 - Conservação (total ou parcial) - São exemplos de conservação total os mamutes encontrados nos gelos da Sibéria e os insetos englobados em âmbar (resina fóssil). Estes casos são, porém, raros, sendo muito mais frequentes os casos de conservação parcial: peças esqueléticas, dentes, conchas, etc. (Guimarães, 1962).
Figura 1:Lyuba O Fóssil de Mamute mais bem preservado do mundo.
A imagem da figura 1, mostra um filhote de mamute que morreu há 42000 anos, tendo ficado preservado no gelo permanente da Sibéria. Foi encontrado em 2007 por um criador de renas e recebeu o nome de Lyuba.

2 - Mineralização - Neste tipo de fossilização, o cadáver é substituído por uma substância mineral.
Por vezes, esta substituição é feita partícula a partícula e a estrutura do ser fica perfeitamente conservada, sendo, até possível fazer preparações histológicas que podem ser estudadas do mesmo modo que os seres atuais.
As substâncias minerais que, com mais frequência, substituem as do ser são a sílica, a calcite, a pirite, óxidos de ferro, etc., e podem ser trazidas até ele por águas de circulação subterrânea.
Figura 2: Tronco petrificado. De uma floresta de coníferas do Pérmico, no Arizona, Estados Unidos.
Fonte: http://www.1000dias.com/ana/floresta-petrificada/, consultado em 02-12-2012.

3 - Incrustação - Consiste na deposição sobre o ser (animal ou vegetal) de uma substância mineral, precipitada da água de onde estava dissolvida.

4 - Moldagem - Neste tipo de fossilização, o cadáver desaparece totalmente, mas deixa na rocha um molde - molde externo.
Por vezes, a impressão externa do ser apresenta-se em relevo constituindo, então, um contramolde do molde externo.

Figura3 – Molde externo de concha de gastrópode Turritella. Miocénico, Albufeira.

Quando se trata duma formação oca, por exemplo uma concha, pode originar-se, pelo seu preenchimento, um molde interno.
Os moldes internos reproduzem a estrutura de partes ocas do ser, permitindo, muitas vezes, a observação de particularidades anatómicas não observáveis com outros tipos de fossilização.

Figura 4 – Moldes internos de conchas de gastrópodes Turritella, Miocénico, Almada.

5 - Incarbonização - Consiste no enriquecimento em carbono da matéria orgânica do ser.
Embora possa atingir os animais, é contudo mais frequente nos vegetais.
As turfas antigas, os lignitos, a hulha e o antracito são fósseis vegetais.

Figura5 – Sequência de grau crescente de diagénese e de incarbonização: Turfa – Lenhite – Hulh – Antracite.

6 – Impressão - Por vezes o ser deixa nos sedimentos apenas uma impressão - pegada, resto, marca de folhas, de asa, etc.
Pegadas de gigantescos sáurios podem ser encontradas nos calcários do Cabo Mondego e em Sintra, por exemplo.

Figura 6 – Pegadas de Dinossauro em Sintra.

7 – Ninhos de fósseis
Por vezes, em determinados pontos de uma formação sedimentar, encontram-se fósseis em grande quantidade, constituindo os chamados ninhos de fósseis.
Estes "ninhos de fósseis" revelam, quase sempre, o rápido aniquilamento de grande número de indivíduos, devido a causas físicas ou biológicas: variação do estado de pureza, salinidade ou temperatura do meio aquoso; erupção submarina, emanação hidrotermal, etc.
Em certos casos porém, estes ninhos de fósseis explicam-se facilmente pelo "habitat" dos seres fossilizados - seres construtores de recifes, por exemplo.


Importância geológica dos fósseis - fósseis característicos ou estratigráficos e fósseis de fácies

As floras e as faunas têm-se modificado através dos tempos. Por este motivo, os fósseis têm valor cronológico, permitindo datar os terrenos em que se encontram.

Sendo os seres a que dizem respeito os fósseis contemporâneos da formação destes terrenos, pode-se concluir que "são da mesma idade os estratos que contêm os mesmos fósseis".

Nem todos os fósseis porém, servem para determinar a idade relativa dos estratos; apenas os chamados fósseis característicos ou estratigráficos, isto é, aqueles que correspondem a indivíduos pertencentes a grupos de curta longevidade relativa, de grande área de dispersão e de fácil fossilização.

Também têm muita importância os fósseis de fácies, os quais dão indicações sobre as condições em que se formaram os terrenos nos quais estão inseridos e sobre as variações climáticas verificadas através dos tempos geológicos.


Fácies

Dá-se o nome de fácies duma formação geológica antiga ao conjunto dos seus caracteres litológicos e paleontológicos que revelam as condições em que esta formação se constitui.

Podemos considerar dois grandes tipos de fácies: os terrestres (continentais e insulares) e os marinhos. 

Os principais fácies terrestres são: o vulcânico, o eólico, o glaciário, o fluvial, o lacustre e, estabelecendo a transição para os marinhos, o de estuário e o lagunar.

Quanto aos fácies marinhos, os principais são: o litoral, o nerítico e o abissal.

Os fácies vulcânico, eólico e glaciário são fáceis de caracterizar sob o ponto de vista litológico, no entanto são pobres em fósseis.

No fácies lacustres, os fósseis predominantes são os dos seres de água doce ou anfíbios.

Os fácies de estuário têm, assim como os lagunares, faunas mistas ou de água salobra.

Na região litoral, abundam as conchas, sendo em grande número as de animais que viviam fixados.

Na região nerítica, ainda iluminada (a luz penetra até cerca de 150m) e batida pelas ondas, podem aparecer fósseis vegetais (algas calcárias) e as conchas nela encontradas são fortes. É, ainda, a região dos recifes coralinos.

A região batial (zona batial ou andar batial - ecossistema dos fundos marinhos localizados no talude continental. Esta região pertence à zona afótica) apresenta condições de vida muito diversas da anterior. Os caracteres paleontológicos dos seus sedimentos, são, consequentemente, diferentes. As conchas são mais finas, não aparecem fósseis vegetais, nem de animais herbívoros.

Quanto à região abissal, não se conhecem depósitos emersos, que com certeza se possam considerar abissais.

Estes depósitos designados por sedimentos pelágicos são constituídos, fundamentalmente por vasas calcárias (de foraminíferos) e siliciosas (de radiolários e diatomáceas) e, ainda, pela "argila vermelha dos grandes fundos".

Os bons fósseis de fácies são os dos seres que só viveram em meios bem determinados. Os seres sedentários dão, em regra, bons fósseis de fácies.



Bibliografia: “Lições de Geologia (para o 7º ano liceal), Natércia Guimarães e Augusto Medina, Porto Editora, Lda., 1962.

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